domingo, 22 de junho de 2014

Estados Unidos e Garanhuns se unem em intercâmbio musical

"O consulado dos Estados Unidos no Recife, com o apoio da Prefeitura de Garanhuns, realiza, no dia 30 de junho, a primeira edição do Conexão Cultural. O evento acontece no Parque Euclides Dourado às 20h e tem o objetivo de promover a mistura de ritmos da cultura norte-americana. O Conexão conta com um show da Clinton Curtis Band. No repertório, o grupo traz os estilos country, reggae, jazz, blues, soul, gospel, folk e rock ao público, no primeiro show realizado no Brasil. A Clinton Curtis também se apresenta no Recife, em Vitória (ES) e Brasília (DF). O município de Garanhuns, Agreste Meridional de Pernambuco, é o único do interior do Estado que recebe a apresentação. No dia anterior (29), às 14h, acontece um workshop de música que une o Projeto Batuque, de Garanhuns, e a Clinton Curtis Band no Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcanti. A ideia é incentivar as trocas culturais por meio da música. Serviço Workshop Domingo (29) l 14h Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcanti (Praça Dom Moura - Santo Antônio, Garanhuns) Conexão Cultural Segunda (30) l 20h Parque Euclides Dourado" Fonte: http://www.soumaispe.com.br/web-noticias.php?id=22232

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Entrevista exclusiva com Marcelo Canellas

A II Bienal Internacional do Livro do Agreste (2014) foi contemplada com a palestra de Marcelo Canellas, repórter e jornalista da Rede Globo e um dos profissionais mais premiados da emissora. Marcelo falou sobre duas de suas paixões: o jornalismo e a literatura, procurando demonstrar as diferenças e aproximações existentes entre os dois. Em seguida encontram-se trechos de uma entrevista exclusiva concedida por Marcelo Canellas às alunas de jornalismo Ruthe Santana e Sara Monteiro.
Como a literatura entra em sua vida como jornalista?

Eu recebi um convite pra escrever uma crônica semanal do diário de Santa Maria, lá no Rio Grande do Sul, quando eles implantaram o jornal, eles me convidaram, e eu, enfim, nunca tinha escrito crônica nenhuma, e de repente descobri um mundo fascinante, passei a toda semana, naquele vício de repórter, de entregar sempre no dead line, na última hora, mas ia lá e entregava e tal, passei a exercitar um estilo próprio, e pra mim é um grande barato. Já são 12 anos, já escrevo pra outro jornal de Ribeirão Preto e foi assim.
Marcelo, como é fazer o equilíbrio entre o jornalismo e a literatura, uma vez que o jornalismo ele busca preservar essas questões de sentimentos e na literatura não, é justamente o contrário, você tem que usar da expressividade para prender o interesse do leitor?
É porque na verdade você tem que desligar uma chavinha e ligar a outra né, são formas distintas de apreensão. No jornalismo você tem uma ferramenta importante que é o da objetividade e a literatura trabalha com a subjetividade. Você pode ser subjetivo no jornalismo até determinado ponto, até o ponto de não comprometer a notícia. Na literatura você pode ser totalmente subjetivo, você pode fazer o que você quiser, liberdade absoluta de expressão, acho que talvez eu tenha procurado a crônica, justamente pra encontrar uma nova forma de expressão que o jornalismo não me permitia, eu não posso ser totalmente subjetivo, e como eu sou muito subjetivo eu precisava de uma outra forma de expressão, fora do jornalismo, e encontrei na crônica, foi um grande barato.
Pra você, qual o papel do jornalista diante da sociedade?
Eu acho que é acender uma luz sobre pontos que estão obscurecidos, às vezes pela visão cansada das pessoas, pela arrogância do poder, por uma maneira preconceituosa de ver coisas, então o papel da gente é iluminar uma realidade obscura, eu acho que é isso que a gente tem que fazer.
Você já fez inúmeras reportagens sobre exploração sexual, trabalho infantil e fome no Brasil, como você consegue lidar com tudo isso emocionalmente?
Não dá pra ficar indiferente e frio diante de uma situação dessas né, a gente não consegue separar a nossa percepção de pessoa, de ser humano, de cidadão, com a de jornalista, aliás, não existe ética dupla né, você se comporta de uma maneira como cidadão e outra como jornalista né, então é uma pessoa só e é natural que você se comova com aqueles temas que te causam indignação, que você considera injusto e tal, então é natural a reação do ser humano né, não dá pra fazer uma assepsia emocional e separar as coisas, você fica naturalmente tocado com uma situação dessas né, a questão é que você tem uma tarefa a cumprir, que é contar essa história e contextualizar, denunciar e cumprir o teu papel de jornalista, e acho que você tem que fazer isso de qualquer maneira.
Algumas pessoas até costumam dizer que um jornalista é um ator, ele encena, acho que você não concorda com tal afirmação pelo que você falou agora, então pra você um jornalista é jornalista 24 h por dia e 7 dias por semana?
É que um ator representa né, um ator lida com ficção né, e a gente, o ofício da gente é retratar a realidade objetiva né, então nada tem haver, são atividades totalmente diferentes, a gente lida com uma forma de conhecimento específica, o jornalismo é uma forma de conhecimento da realidade, você tem que estar aparelhado, ter instrumentos, ter ferramentas teóricas, pra lidar com a realidade, decifrar a realidade, que muitas vezes aparece diante da gente de uma maneira enganosa, então a gente pode se enganar, com os fatos, e as coisas aparecem diante da gente com o verniz, o verniz do preconceito, o verniz do engano, você precisa estar preparado pra raspar esse verniz e mostrar o que estar por trás dele.
Tem como ser imparcial, por exemplo, na sua reportagem sobre a fome no Brasil?
Claro que não né, porque se você encontra uma situação com a qual você não concorda e que é profundamente injusta, você vai ser imparcial em relação à o quê? Em relação a quem? Não dá pra ser, ao contrário eu acho que você deve se colocar, inclusive na reportagem, explicitamente solidário àquela pessoa que está sofrendo aquela injustiça, e ai a imparcialidade não cabe né, é um conceito que está no campo da moral e não serve para o jornalismo na minha opinião, o conceito que serve pra gente, é o da objetividade, ai sim, está no campo do conhecimento, e se eu acho que o jornalismo é uma forma de conhecimento, então eu preciso utilizar da objetividade.
Dentre todas essas reportagens que você já fez, levando em conta as questões sociais, qual foi a que te emocionou mais?
Sempre que lida com bravos humanos eu sempre me emociono, tanto que eu acho importante a gente interferir na agenda de cobertura dos lugares onde a gente trabalha, no sentido de propor, de tentar interferir mesmo, no agendamento dos programas onde a gente atua, e propor aquilo que nos incomoda, tudo aquilo que me incomoda vira proposta, vira sugestão e tal, eu vivo no Brasil né, e no Brasil a gente sabe muito bem, é um pais tremendamente contraditório e desigual né, então tem material ai até, não querer mais.
Como surgiu a iniciativa em escrever o livro Províncias: crônicas da alma interiorana?
Eu estava de férias e fiquei sabendo, que um amigo me ligou que tinha acontecido um incêndio, daí me telefonaram do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, me pedindo uma crônica, e eu escrevi no domingo e mandei pra ele e teve uma, repercutiu muito da cidade e Rio Grande do Sul e tal, e ai a partir daquele momento eu achei que devia fazer um livro sobre o interior do Brasil, sobre Santa Maria, sobre o interior do Brasil de uma maneira geral, porque eu vejo um ponto de contato no modo das pessoas se comportarem das cidades do interior, então o livro aborda um pouco isso né, reflete um pouco sobre viver no interior.
E você já morou em Santa Maria, não é isso?
É, eu morei, praticamente a vida, até começar a trabalhar, eu fui bebê de colo pra Santa Maria, sai depois que me formei na faculdade de jornalismo, trabalhei seis meses lá e depois saí, então vivi grande parte da minha vida lá, tenho uma forte ligação, muito forte, com a cidade, meus pais moram lá, minha irmã, tenho amigos de infância, projetos lá e tudo mais.
Estamos em ano de copa e eleições, qual o seu ponto de vista em relação a mídia, como os jornalistas devem lidar com isso?
A gente tem que noticiar, tem que lidar com a notícia, tem que acompanhar, é possível que durante a copa, surjam diferentes tipos de expressão às manifestações, e a gente tem que cobrir, tem que mostrar, tanto o evento, quanto as manifestações que circundam, cumprir nosso papel de jornalista, tentar dar um contexto a isso, juntar uma coisa com a outra, explicar para as pessoas, contar o B-A-BA, é do nosso metiê.
Por fim, uma mensagem que você pode deixar aos alunos de jornalismo que estão seguindo esse seu mesmo caminho
Eu acho assim, que o grande barato da nossa profissão, que é uma coisa que vocês não podem perder, por que vão acabar se divertindo ao trabalhar com jornalismo, é deixar se surpreender com a vida né, a gente não pode ter medo da notícia, por que tem muita gente que vai pra rua apreensiva, com a matéria na cabeça antes dela acontecer né, deixar acontecer e deixar se surpreender com a vida, por que a vida às vezes é muito mais interessante do que a imaginação da gente, acho que é isso ai.